Como despertar o interesse dos alunos pelas Ciências, fazendo com que tenham sentido os diversos conteúdos "técnicos" estudad...
Como despertar o interesse dos alunos pelas Ciências, fazendo com que tenham sentido os diversos conteúdos "técnicos" estudados nessa área? Esse foi o desafio assumido pela Professora Mytse Nogueira, da Escola Municipal Profa. Scintilla Exel, da cidade de Queimados (RJ). A educadora é finalista do Prêmio Professor Transformador na categoria Ensino Fundamental II, com o Projeto "Operação Carne Forte: o estudo dos nutrientes a partir da carne".
Com base no noticiário em torno da Operação "Carne Fraca", deflagrada pela Polícia Federal em 2017 para apurar denúncias de adulteração de carne nos principais frigoríficos do País, a Profa. Mytse desenvolveu o seu projeto. Ela conta um pouco de sua experiência na entrevista a seguir. O vídeo completo sobre a iniciativa pode ser conferido no site da Base2Edu, organizadora do Prêmio Professor Transformador, ou em seu canal no Youtube:
Como surgiu a ideia de desenvolver este projeto?
Leciono há 20 anos na Educação Básica e, desde o início, sempre me incomodou aquela escola abstrata, desconecta da realidade, sem sentido, aquelas aulas mecânicas, distantes. E isso é muito desmotivante, tanto para o aluno quanto para o professor. É aí que a gente lembra daquela frase: "o maior desafio do professor, hoje, é ensinar um aluno que não quer aprender". E eu me questiono: será mesmo?
Eu acredito que o nosso grande desafio seja trazer sentido à escola. Precisamos fazer a "ponte" com a vida do aluno e isso torna o aprendizado mais significativo e motivante. A partir dessas convicções, eu levei para sala de aula um assunto que estava em alta na época (2017), tanto no noticiário quanto nas redes sociais: a operação da Polícia Federal chamada Carne Fraca.
E como foi feita essa integração, entre noticiário, redes sociais e o conteúdo de Ciências?
A operação teve muita repercussão na internet, os alunos replicavam os "memes"... eu acho que todo mundo, na época, se perguntou: "será que tinha papelão na minha carne?" E aí a Bioquímica, que é sempre tão abstrata, tornou-se um pouquinho mais concreta e intrigante nas aulas de Ciências, porque nós abordávamos cada nutriente a partir de uma notícia da Operação.
Por exemplo: partimos de uma manchete que falava do uso de vitamina C para mascarar uma carne estragada. Então, nós usamos essa manchete para trabalhar o assunto vitaminas e, sempre que possível, alinhado com o experimento. Nesse, em questão, eles fizeram a identificação da vitamina C em diversos alimentos.
E quais foram os principais resultados observados?
No final da pesquisa, os alunos elaboraram um "dossiê", ou melhor, uma exposição para a escola com toda a sequência didática aprendida. Dessa forma, nós passamos por todos os grupos de nutrientes, sempre com essa mesma dinâmica.
A meu ver, o principal resultado do projeto foi trazer sentido para o conteúdo das aulas de Ciências, tornando-as mais atrativas e interessantes para os alunos. E claro, proporcionou ainda a oportunidade de tornar a sala de aula um espaço de reflexão, de discussão ética, de destacar o valor ativo da sociedade com conteúdos relevantes também do ponto de vista social e científico.
Considerando a BNCC, o projeto trabalhou quais habilidades e competências?
Ao substituir as aulas tradicionais sobre nutrientes por uma sequência de temática instigante, de grande repercussão nas redes sociais e telejornais, algo relacionado ao cotidiano, o projeto facilitou a apropriação dos conteúdos curriculares. E também contribuiu para motivar o aluno a interferir criticamente na realidade.
A BNCC propõe temas de trabalho que favoreçam a inserção do aluno no dia a dia das questões sociais marcantes e flexíveis o suficiente para abrigar a curiosidade e as dúvidas dos estudantes. Dessa forma, o processo investigativo deve ser entendido como elemento central na formação dos estudantes, em um sentido mais amplo, e cujo desenvolvimento deve ser atrelado a situações didáticas (BNCC,2017 P.320).
O projeto trabalhou ainda outras competências específicas da área de Ciências, tais como: Analisar, compreender e explicar características, fenômenos e processos relativos ao mundo natural, social e tecnológico; Avaliar aplicações e implicações políticas, socioambientais e culturais da Ciência e de suas tecnologias para propor alternativas aos desafios do mundo contemporâneo; e Construir argumentos com base em dados, evidências e informações confiáveis.
Sobre o Prêmio Professor Transformador
O Prêmio Professor Transformador foi lançado com o objetivo de destacar projetos inovadores desenvolvidos por professores da Educação Básica de todo o País, alinhados com as diretrizes da BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Os 12 projetos finalistas estão distribuídos em quatro categorias, que correspondem às etapas do Ciclo Básico da Educação no Brasil: Educação Infantil, Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II e Ensino Médio.
A classificação final dos projetos em cada categoria será anunciada durante a Bett Educar, considerada a maior feira de Educação e Tecnologia da América Latina. O evento está com a sua realização adiada em 2020, por conta do avanço da pandemia da Covid-19. Tão logo seja possível, a organização anunciará uma nova data.
Os segundos e terceiros colocados em cada categoria do Prêmio Professor Transformador irão receber R﹩ 2.5 mil e a oportunidade para apresentar suas iniciativas na edição 2020 da Bett Educar. Já os primeiros colocados de cada categoria receberão prêmios de R﹩ 7 mil, além de uma viagem para participar da Bett Educar 2021 em Londres, Inglaterra.
O Prêmio Professor Transformador é organizado em conjunto pela Base2Edu, rede que conecta e fortalece profissionais e iniciativas voltadas à transformação da Educação; e pela organização da Bett Educar, maior evento de educação e tecnologia da América Latina.
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